O joão-de-barro e sua esposa
traidora
Há uma crença popular,
inclusive mencionada em literatura ornitológica, de que o joão-de-barro,
Furnarius rufus, empareda dentro do ninho a fêmea que o tenha traído.
Pessoas adultas, mesmo com relativa experiência de vida, afirmam isto com a
maior convicção. Esta estória imputa ao joão-de-barro duas pechas. Primeiro, a
de que suas esposas são capazes de trair. Segundo, a de que os maridos são
capazes de cometer assassinatos passionais.
Na verdade tudo não passa
de um mito. E este mito pode ter surgido de dois fatos. O primeiro é de que
alguns ninhos abandonados do joão-de-barro são aproveitados por abelhas
indígenas como a uruçú-mirim, para fazerem sua colméia. As abelhas fecham a
entrada do ninho com uma cera, dando a impressão de ter sido fechado pela ave.
Mas olhando-se mais atentamente nota-se o engano.
Outra possível explicação,
a meu ver a verdadeira, é a seguinte. Hudson, em uma obra de 1920, cita um
interessante episódio ocorrido em Buenos Aires. Uma das aves (não foi possível
saber se o macho ou a fêmea, pelo fato de serem muito parecidos) foi
acidentalmente pega em uma ratoeira que lhe quebrou ambos os pés. Após liberada
com muita consternação por quem havia armado a ratoeira, voou para o ninho onde
entrou e não foi mais vista, ali morrendo certamente. O outro membro do casal
permaneceu por ali mais dois dias, chamando insistentemente pelo parceiro. Em
seguida desapareceu retornando três dias após com um novo parceiro e
imediatamente começaram a carregar barro para o ninho, fechando a sua entrada.
Depois construíram outro ninho sobre o primeiro e ali procriaram. Hudson viu
este fato como mais uma "qualidade" do joão-de-barro, por ter tido o cuidado de
sepultar sua parceira.
É possível que esta
história, publicada originalmente em um periódico científico, tenha sido
divulgada muitas vezes em revistas e jornais, como acontece hoje com diversos
assuntos, tornando-se logo de domínio público. Acontece que toda história
contada e recontada repetidamente, vai incorporando um pouco do floreado ou
mesmo da fantasia de cada um, acabando muitas vezes com seu real sentido
totalmente desfigurado. Tudo indica que foi o que aconteceu neste caso.
O joão-de-barro construindo o ninho
Foto de David Dinhani
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Uma música popular,
chamada "João-de-barro", também deve ter contribuído para popularizar essa
estória:
O João
de Barro, pra ser feliz como eu
Certo dia resolveu, arranjar uma companheira
No vai-e-vem, com o barro da biquinha
Ele fez sua casinha, lá no galho da paineira
Toda manhã, o pedreiro da floresta
Cantava fazendo festa, pra aquela quem tanto amava
Mas quando ele ia buscar o raminho
Pra construir seu ninho seu amor lhe enganava
Mas como sempre o mal feito é descoberto
João de Barro viu de perto sua esperança perdida
Cego de dor, trancou a porta da morada
Deixando lá a sua amada presa pro resto da vida
Que semelhança entre o nosso fadário
Só que eu fiz o contrario do que o João de Barro fez
Nosso senhor, me deu força nessa hora
A ingrata eu pus pra fora por onde anda eu não sei
Certo dia resolveu, arranjar uma companheira
No vai-e-vem, com o barro da biquinha
Ele fez sua casinha, lá no galho da paineira
Toda manhã, o pedreiro da floresta
Cantava fazendo festa, pra aquela quem tanto amava
Mas quando ele ia buscar o raminho
Pra construir seu ninho seu amor lhe enganava
Mas como sempre o mal feito é descoberto
João de Barro viu de perto sua esperança perdida
Cego de dor, trancou a porta da morada
Deixando lá a sua amada presa pro resto da vida
Que semelhança entre o nosso fadário
Só que eu fiz o contrario do que o João de Barro fez
Nosso senhor, me deu força nessa hora
A ingrata eu pus pra fora por onde anda eu não sei
Fonte: http://www.ceo.org.br/mitos/espos.htm
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